O trabalho desenvolvido nas oficinas promovidas pelo Projeto Chico Vila na comunidade Mãe Luiza desde julho de 2009 se propõe levar o indivíduo a uma análise de seu meio formativo para que haja a compreensão deste sujeito enquanto ser atuante em um contexto, transpondo de maneira crítica as barreiras entre sala de aula e comunidade, fazer artístico e cotidiano.
Queremos mais segurança no nosso bairro, pois a violência é muita. As pessoas que entram em Mãe Luiza têm medo de ser assaltadas, nem os motoristas de ônibus querem entrar no nosso bairro. Até as escolas e postos de saúde podem ser assaltados a qualquer momento.
Nós queremos que acabem as drogas e a violência, que melhorem o atendimento dos postos de saúde e que as escolas tenham um professor para cada matéria. Também queremos saneamento básico para Mãe Luiza.
Vamos lutar por nossos direitos, juntar todas as pessoas interessadas em ajudar, pois os políticos apenas vêm em Mãe Luiza em época de eleição para enganar os bestas. Sabemos que muitos prefeitos fazem o bem para as pessoas, mas o nosso bairro é muito azarado e a prefeita não tem coragem de vir consertar os buracos, os esgotos, as praias poluídas e etc.
Se for tão difícil assim, é só nos dar o dinheiro que a gente manda os pedreiros consertarem os buracos, os policiais darem segurança ao bairro e as escolas contratarem mais professores!
Não podemos estabelecer exatamente o que é a arte da performance pois, por ser uma linguagem artística contemporânea, seu conceito está em constante movimento. Faremos aqui então, considerações a respeito de alguns elementos que estão presentes na maioria das performances que acontecem hoje em dia.
A arte da performance é considerada uma arte do corpo, pois nesta linguagem artística, o performer se torna sua própria obra de arte, a partir do momento em que fala sobre si mesmo utilizando seu corpo. Evidenciamos também que as demais linguagens artísticas (dança, teatro, música, artes plástica) interagem entre si dando origem a esta nova linguagem.
Pode-se notar que os performers valorizam a interação direta com o público que deixa de ser apenas um espectador para ser participante do ato artístico. Esta interação pode acontecer de várias maneiras, havendo ou não contato direto com o performer. Pode-se pensar esta relação com o público como o compartilhamento de um segredo que é revelado pelo performer, mas, que não necessariamente é entendido em sua completude pelo público. Este, por sua vez, acabará por selecionar as informações com as quais se identifica neste ato artístico e terá uma outra compreensão deste segredo, as vezes, completamente diferente da compreensão do performer.
Outro fator bastante evidente é a utilização da performance como meio de manifestar ideais políticos, ou seja, como meio de expressão pessoal, pensando criticamente seu contexto sociocultural. Na performance enquanto acontecimento, a compreensão do que é visto é impregnada da individualidade de cada espectador, assim como o que leva o performer ao ato artístico e como procede durante sua apresentação está também impregnado de sua individualidade. Estes fatores fazem com que cada performance, ou cada apresentação de uma mesma performance, sejam totalmente diferentes, se metamorfoseando de acordo com as variações que sofre o próprio indivíduo.
Podemos perceber então, que pensar uma expressividade por meio da arte da performance, significa desenvolver uma linguagem pessoal. Nesse processo o performer tem a liberdade de utilizar as demais linguagens artísticas, sua própria biografia, bem como suas inquietações de qualquer ordem para planejar um ato artístico que estará também em constante movimento, dependendo diretamente dos fatores que implicarão em sua feitura: o espaço, os espectadores, etc.